terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

(...) a vida nos intervalos #315

Vai-se andando...

Hoje devo ter ouvido perto de duas dezenas de pessoas que ao encontar-se se cumprimentavam - sim, eu própria por vezes estranho mas ainda existem(imos) - perguntando "Como vais?" ou algo equivalente.
Quase todas ia respondendo "vai-se andando" e, uma ou outra - penso que não minto se disser que foram duas - responderam que "hoje, nada bem".

Confesso que eu, que muitas vezes não vou andando, arrasto-me por falta d eenergia ou corro por falta de tempo, fico já um pouco embaraçada com a pergunta. Não quero chocar ninguém dizendo que hoje é melhor que ontem, porque estou viva, porque a primavera está achegar, porque sobrevivi a mais um fim do mundo (desta vez o dos vikings) mas também não quero confrontálos com não menos verdade de que está tudo errado, o mundo parece não ter concerto e país está melhor mas os portugueses nem por isso.

Calma, eu sei que nem devia maçar-me, na verdade das pessoas que perguntam como estou, penso que cerca de 5% quer saber a verdade e mesmo esses não anseiam por toda, toda... enfim, lá vou respondendo com evasivo "tudo bem" ou um mais gregário "vai-se andando". Mas hoje, amigos, na biblioteca escolar onde trabalho uma uente respondeu com um sorriso na voz: "Estou muito bem, felizmente".

O "Como está?" tinha sido proferido pela Assistente Técnica que estava no atendimento e perante tal "resposta sorrida", tirei os olhos da etiquetagem que estava a fazer e não pude deixar também de sorrir ao mesmo tempo que aplicava o auto-ralhete de praxe: "Tem juízo, Carla Maria!"

Tratava-se de uma aluna do ensino noturno que deve ter uns verdes 20 anos e cuja "história" me foi contada resumidamente há dias. Há umas semanas, esta jovem, meio envergonhadamente perguntou a uma assistente ou professora (não recordo, nem é importante) se lhe podia pagar um pão com manteiga - era hora do jantar que ela não havia comido. Depois de se fazer um breve levantamento sobre as circunstâncias da simpática jovem apurou-se que pertence a uma família com grandes dificuldades, um irmão paga-lhe o passe para ela poder ir às aulas, ... e desde então leva da escola alguma da comida que provavelmente iria para o lixo ou para alguém menos necessitado.

Dirão que a assitência social não funciona (concordo), qua a aluna talvez pudesse trabalhar (improvável mas possível) que devia ter estudado quando era adolescente (pois, talvez, quem sabe)...

O que verdadeiramente me interessa é que de toda a gente que ouvi hoje responder a um cumprimento ela foi a única que disse "Estou muito bem, felizmente"

(também publicado como nota no facebook)

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