terça-feira, 23 de setembro de 2014

A Sopa de Carrol

A sopa de Carroll
leva de tudo
um pouco:
leva bichos
leva plantas
leva membros
decepados
pernas
braços
variados
e muito bem
temperados
com pòzinhos
de espirrar
chávenas
e chaleiras
bolinhos
a fumegar
e cabeças
de meninas
onde os sonhos
são plantados
as meninas
rodopiam
as meninas
dizem
não
e arrancam
os vestidos
não sabem a côr
das plantas
não sabem
os seus segredos
não conhecem
os destinos
e muito menos
os medos
o espaço é negro
e profundo
um poço feito
de pedra
com um portão
pequenino
a chave não está
na sopa
está no tempo
e o tempo é
infinito
e o infinito
o que é
não há resposta
certeira
por muito que
não se queira
as respostas são
iguais
em toda a mente
matreira
tão iguais
que tanto faz
e a chave
não serve assim
esta sopa
é brincadeira
não a podemos
comer
sopa de indigestão
quem cozinha
é a rainha
atirou dados
ao chão
escondeu cartas
no cabelo
em forma de
coração
e na mão ergue
um flamingo
com o sorriso
do gato
Carroll-coelho
avisou
o tempo
está a contar
o que ele conta
não sabemos
nem dá para
adivinhar
podemos imaginar
grita
o homem-escuridão
Alice fica
sem fala
em busca de
solução
e soluça
mas em vão
Yvette K. Centeno

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