domingo, 21 de setembro de 2014

Dos actos heróicos

Senti-me há dias inquieta. Achei mesmo que a minha tranquilidade pessoal estaria em perigo.
Aconteceu que uma jovem amiga, não tendo o que ler, me disse que tencionava comprar um livro de um autor badaladíssimo, que, li por aqui há umas horas, se propõe "partir tudo" em Lisboa um destes dias, num evento que certamente será um sucesso quase tão estrondoso quanto a primeira alunagem .

Aparentemente, a referida amigo terá ficado mais ou menos encantada com o jovem escrevente - enquanto escrevente, apenas e só, claro está - ao assistir a uma entrevista deste num canal de televisão.

Não sendo eu muito dada ao visionamento do media, quer seja por falta de tempo e paciência, ou pelo simples facto de não ter televisão e tendo lido apenas alguns excertos da obra do amplamente conhecido e jovem senhor, sou assim uma espécie de juiz que não leu o processo com atenção, aluno que vai a exame sem ter lido as sebentas ou músico que toca de ouvido. Mas a verdade, verdadinha é que tenho de me orientar de algum modo e, faltando-me o Farol da Guia, lá me vou deixando conduzir pelo que leio (proveniente de dedos confiáveis) pelo "blink" e, confessemos, em grande medida, pelo mau feitio.


Voltando à amiga, creio poder inclui-la no imenso grupo daqueles a quem a literatura não agarrou nem na infância, nem na adolescência, mas a quem alguma maturidade da adultice está a fazer enveredar por outros caminhos. De tal forma que a leitura é, nos dias que correm, uma das atividades de tempo livre preferida.

Juntando tudo isto, aproveitei o facto de nesse dia a jovem não ter tido ocasião de consumar o (des)at(in)o e, no dia seguinte "vendi" à pequena a ideia de que não valia grandemente a pena ir gastar já dinheiro em livros que talvez não fossem o que precisava no momento e, como num passe de magia e aproveitando um comentário feito acerca d eum livro que lhe agradara em criança, coloquei-lhe nas mãos História para Contar Consigo, de Rita Vilela e Margarida Fonseca Santos.

Dois dias não eram volvidos quando recebi com imensa alegria uma sms em que se podia ler "Obrigada pelo livro. Acabou com uma história fantástica. Mesmo o que estava a precisar" e no dia seguinte uma outra mensagem "Podes empretar-me o segundo livro?"

Poder, poder... enfim... respondi-lhe que o queria ler primeiro. Talvez o consiga fazer esta semana. Respondi-lho não apenas por ser verdade, mas por acreditar que um intervalo entre os dois livros das autoras seria benéfico, por um lado para não criar vícios e por outro para permitir que o primeiro "pousasse".

Reencontrámo-nos ontem. Levei-lhe Um Pintor Debaixo do Lava-Loiças , de Afonso Cruz, autor de que já ouvira falar mas não tinha lido. No breve preâmbulo que fiz, disse-lhe que achava ser um livro de "fácil" leitura, uma verdadeira história de ternura e que, naturalmente, esperava que gostasse. 

Passava bastante da 1 da manhã desta noite quando recebi uma nova mensagem:
Ainda a ler. De um lado é "apaga a luz e dorme!", do outro "Lê". Que faço?

Que lesse! não podia ser outra a minha resposta. Ao longo do serão fui reparando que postou no facebook diversas citações do livro e hoje, pelo início da tarde nova mensagem:
Estou a adorar o livro. A primeira coisa que fiz quando acordei foi ler.


E pronto! São actos heróicos destes que me colam sorrisos ao rosto e me fazem cantarolar, qual Annie Lennox:

Hey Hey I saved the world today
Everybody's happy now
The bad thing's gone away
And everybody's happy now
The good thing's here to stay
Please let it stay

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