quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Arquitetos e Achimpas


Nota prévia:



É possível, ainda que não provável, que o entendimento deste meu escrito seja facilitado pela leitura do livro achimpa, de Catarina Sobral. Por outro lado... quem é que precisa de perceber isto?

Há quem tenha amigos e há quem tenha sorte. Eu tenho sorte, por isso tenho Amigos. Em número suficientemente grande para de quando em vez poder aborrecer um diferente, embora um por outro seja muito mais castigado, (ah deixa-te de merdas, Carla! tu achimpas a paciência de todos eles... pois, isso, continuando:)  e em número suficientemente pequeno para conseguir gerir a coisa, uma vez que como dizia uma das minha vítimas, a Tãnia Roberts, isto de amigos, não se pode ter muitos porque depois não damos conta do recado. Creio que não era exatamente isto que dizia, mas estou certa que a intenção era boa e que queria apenas dizer que Amigo é uma espécie de carro potente e fiável mas que exige muita manutenção.


Os meus Amigos são fantásticos e os melhores do mundo, como quase todos os amigos dos mundos que quase todas as pessoas, mas são, lá está pessoas humanas - ah o que eu adoro este singelo par de vocábulos! - de modo que uns são altos, outros baixos, etc e etc, mas são todos super inteligentes, talentosos e giros que se fartam, mas como pessoas humanas têm as suas fragilidades. Os que estão mais preparados para a arte da sobrevivência têm, acho eu, um bocadinho de medo das achimpisses que por vezes digo e/ou faço. Depois há os outros, o grupo dos "arquitetos", que são, claro está, aqueles cuja profissão é o risco, os que enfrentam o perigo com um sorriso nos lábios.

(E estava eu quase quase a reencontrar o fio desta meada quando me chega aos ouvidos o Senhor Jaques Brell que achimpadamente me brinda com o "Quand on n'a que l'amour" e me enebria os sentidos e desorienta o teclado e, e... inspiremos fundo e achimpemos o texto!)

Quem tem Amigos "arquitetos" sabe que eles se distinguem dos mais por:
nos darem ombros e peixe fresco; irem conosco para os copos, ao cinema e outras cenas igualmente inúteis e culturais; partilharem paivas e cenas que tais; cozinharem propositadamente comfort food para nós; telefonarem a agradecer por terem conhecido uma tasca nova; nos confiarem as suas crias; terem conosco profundíssimas conversas atrás da porta da casa de banho; nos telefonarem à 2 da manhã para contar uma anedota ou às 7 para nos acordarem só porque é giro; garantirem que não adormecemos nos dias de vigilâncias de exames e ainda por nos darem lenços para secar dores e disfarçar borrões e sobretudo, muito sobretudo por estarem sempre disponíveis para uma achimpadela sempre que uma nos esteja a fazer falta.

Os meus arquitetos são simultaneamente autor e obra, uma vez que são também casas - mas isto já se sabia - e quando pressentem que estou num destes dias assim, meio achimposos, sacam do achimpador e pimba! aqui na menina! e depois dá nisto, a pessoa achimpa, que é como quem diz, pensa que pensa, arma-se em espelho e reflete e descobre a raiz de todos os males, a mãe de todas as desgraças:

FALTA-ME UM PERLINÇO!

P.S. Uso ao longo do texto pseudo-palavras que acredito terem sido criadas por Catarina Sobral. Aqui fica o crédito à autora e, já agora o conselho, a todos os que apreciam literatura para a infância e juventude para que leiam os seus livros.

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