domingo, 21 de setembro de 2014

Sem Receita


Primeiro lenta e precisamente
Arranca-se a pele
Esse limite da matéria
Mas a das asas, melhor deixar
Pois se agarra à carne
Como se ainda fossem voar
As coxas soltas
Soltas e firmes
Devem ser abertas
E abertas vão estar
E o peito nu
Com sua carne branca
Nem lembrar
A proximidade do coração
Esse não!
Quem pode saber
Como se tempera um coração?
Limpa-se as vísceras
Reserva-se os miúdos
Pra acompanhar
Escolhe-se as ervas, espalha-se o sal
Acende-se o fogo, marca-se o tempo
E por fim, de recheio
A inocente maçã
Que tão doce, úmida e eleita
Nos tirou do paraíso
E nos fez assim
Sem receita

Alice Ruiz (com um agradecimento especial à Ana Vidal)

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